quinta-feira, 22 de novembro de 2007

CARTA DE UM CORINTHIANO

Carlos Melo Publicado nesta manhã no Blog do corintiano Juca

Kfourihttp://blogdojuca.blog.uol.com.br

Compreendo todas as limitações da profissão.

Eu, por exemplo, sou cientista político; sei o quanto me custa a objetividade: mas é a profissão e a credibilidade que exigem.

Na verdade, uma luta: mais do que ser, a cada dia, tentar ser objetivo.

É por isso que, fato raro, resolvi te escrever.

Soltar a voz, superar a crítica e assumir a própria angústia, para além da profissão, que nada tem de objetiva é gesto de coragem.

De fato, anteontem foi um domingo daqueles.

Mas, não sei dizer se não quero que meu filho -- que hoje tem 1 ano e 10 meses -- passe por isso.

É claro que dói e muito.

Melhor que não passe por isso.

Mas como ensiná-lo que não se torce por um time apenas porque se é campeão?

Como aprenderá que há algo mais elevado do que a glória, que se cresce e se humaniza na adversidade?

Que a solidariedade e a identidade estão à prova é nesses momentos e não apenas na hora de comemorar os títulos, como hoje fazem sobejamente os tricolores?

Ah, os tricolores nunca saberão o que é isso!

Sei. Parece masoquismo.

Mas acho que somos corintianos também por essa virtude de saber sofrer e não renegar a dor; de se confraternizar na tristeza, de se aproximar na miséria.

Dói, eu sei. E sei que não há prazer nisso.

Mas há orgulho e isso há tempos estava me faltando na relação com o meu Timão.

Voltar a ser um "sofredor" me fez lembrar porque "escolhi" ser corintiano; porque vesti essa camisa de cores tão simples e tão dignas.

Me fez recuperar a identidade com uma massa enorme de tantos "sofredores" de dentro e fora dos campos e arquibancadas; me fez, de novo brasileiro, pois é essa nossa condição.

Juca, o Corinthians testa nossa hombridade.Caia ou não caia -- rogo a todos os santos para que não caia --, essa é "a dor e a delícia de ser o que é".

Corintiano, maloqueiro e sofredor. Graças a Deus!

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