Boleiros
Nando Reis, nandoreis@estadao.com.br
Debaixo do sol escaldante que fustigou nossas peles nessa semana de farto verão, buscávamos refresco dentro do mar. Evento raro para esses tempos de indefinição meteorológica, sete dias seguidos sem uma única nuvem no céu fizeram a alegria dos turistas que buscaram alento nas águas atlânticas. E foi assim que tive o encontro inesperado. Recuo um pouco no tempo para me fazer entender melhor.
Cerca de três meses atrás, assistindo a um jogo de futebol pela TV, minha filha mais velha me falou que um amigo seu havia feito uma música para o Corinthians e que ela estava sendo cantada pela torcida. Confesso que fiquei intrigado, interessado pelo assunto e curioso pelo processo. Recuarei um pouco mais.
Há três anos, eu estava na arquibancada do Morumbi quando um torcedor se aproximou e me inquiriu “Por que você não faz uma música pro São Paulo?” Tarefa difícil, escrever música sobre futebol é meter o dedo em vespeiro. Sendo influenciado pela música inconfundível de Jorge Ben como fui e sou, escrever qualquer coisa tendo Fio Maravilha como parâmetro e referência é sempre um grande risco. Mesmo sendo autor da letra da música É uma Partida de Futebol, gravada pelo Skank e escolhida como uma das músicas da Copa da França em 98, nunca mais havia me arriscado no tema. Depois de ouvir a requisição do colega de torcida, cheguei em casa e risquei alguma no papel.
Sempre gostei de ouvir as torcidas cantando. Quando vi a torcida do Flamengo emprestar o refrão “poeira, poeira, levantou poeira…” confesso que fiquei arrepiado. Imaginava a alegria do autor ao ouvir sua criação servindo de estímulo para a massa empurrar seu time do coração.
Acredito que uma boa maneira de resgatar o espírito esportivo e fraterno de quem vai ao estádio é criar algo que expresse sua paixão e identificação com o clube que ama. Não vejo graça nas músicas que manifestam raiva ou desprezo pelo adversário. Já escrevi isso aqui: não acredito em torcida do contra, ela não tem a força da fé.
Quando aqueles versos encontraram uma melodia e resultaram numa música, primeiramente levei-a para a apreciação de um amigo. Edu Morato ouviu a marchinha ingênua e nostálgica e aprovou. Foi assim que tomei coragem de mostrá-la para gente de dentro do clube. Nada aconteceu e me resignei. Não é dessa forma que uma música vira um hino de arquibancada. Vamos voltar a Ubatuba.
Entre um jacaré e outro conheci a história de Tuca e seu hit alvinegro. Estávamos dividindo o mesmo mar e por coincidência ouvi o menino de 19 anos contar para meu sobrinho a sua história admirável.
Enquanto caminhava em direção à casa de seu pai, compôs mentalmente a música. Tuca levou a música para a quadra da Gaviões e ouviu pela primeira vez a crítica previsível - é boa, mas longa.
Foi no Pacaembu, no intervalo do jogo entre Corinthians e Pirambu, que a coisa se encaminhou. Chegou perto da bateria e, no silêncio do meio tempo, começou a cantar “Aqui tem um bando de louco, louco por ti Corinthians…” O fato é que a música pegou. E certamente será inflamado com essa paixão que o time poderá recuperar seu lugar na Série A. Salve Tuca Veiga!
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